sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Sereia



com muito amor para você que será sempre linda!

2010 - Confesso que quando conheci a Jú fiquei irritada, pensei “deveria ser proibido uma mulher dessas andar na rua! Linda, inteligente, livre, sensual...”
O tempo passava, não era muito fácil para eu manter uma amizade estreita com ela que sempre viajava, tinha uma força e coragem diferentes das que eu possuía, talvez não tivesse rolado um mega esforço de nossa parte, enfim.

2014 - Descobri pela internet que um amigo meu está com CA (forma menos explícita que o pessoal da área da saúde nomeia o câncer). Fiquei chocada. Estas coisas acontecem com os avós da gente, com os pais dos outros, com amigos de amigos... Mas com a galera da nossa idade?

A sociedade está muito doente! Eu mesma, tive uma depressão forte e enquanto muitos elogiavam minha magreza eu sofria por não dar conta de tomar um copo d’água, por desejar morrer, pular na frente de um trem e fingir que foi um mero acidente. Perdi 13 quilos em 40 dias, não tomava banho nem dormia, fumava feito a Caipora!
Vivenciei e ainda vivencio a depressão (tristeza que parece não ter fim) de outros familiares e amigos... Lutei contra a minha e venci.

Agora no final de Agosto fiquei sabendo que a Jú (lembram? A sereia lá do começo do post) estava no ringue, guerreando contra um câncer na mama. Na hora não deixei ninguém ver (essa minha mania de querer ser a forte), mas chorei muito, feito criança! Nenhuma mulher deveria ter isso... Nenhum ser humano, animal... Ninguém deveria passar por isso. Ser invadido, mutilado... Pensei na mãe da Juliana, lembrei das fotos dessa Deusa correndo pelo mundo... Exemplo de vida! Pensei comigo “ela já está curada”... Fui ler seu blog e chorei ainda mais, nestes dias de maior sensibilidade e que me encontro, não aguentei ver o vídeo de dias dos pais, mas entendi: viva o presente! Quero apresentar a vocês essa linda fada que nós temos o prazer de ter na Terra, e agradecer Jú, por você ser quem é!
Você é luz no meio da escuridão! Você é motivação e alegria, mesmo na própria dor!

Somos irmãs em Cristo, Oxalá, Tupã, Grande Mãe e envio pra você neste momento amor e oração, força e o desejo de que as energias femininas do planeta te auxiliem agora e sempre!

Ainda tem muita história pra contar negona índia velha

Marimar

perdão e gratidão

Marimar falou por duas horas ininterruptas, sem breque pra respiro, sem pausa de fusa ou semifusa, confusa, chorou! Mostrou no próprio corpo às marcas e feridas, os buracos feitos por ele e pela vida. Ele em silêncio, observou, olhos marejados (lágimas ou cansaço), mas ele permaneceu calado.

Fim do primeiro ato, mãos dadas atravessando a rua, eles param no posto frente a frente, os lábios dele tocam a testa dela e depois as temporas. A boca dele abre e fecha em três palavras, mas o coração fez muitos mais sem saber; 
Contou a Marimar que a amava, mesmo ela também sendo uma novela mexicana ambulante, que entendia a fraqueza que ela demonstrava naquele momento, mas que a força dele era pura sutileza, que ele luta e transmuta de outro jeito e que a quer do jeito que ela é.

Terceiro ato - Deitados horas depois, Marimar retribui o carinho, pede perdão bem baixinho e agradece por tudo que ele a ensinou e pelo que ainda vai ensinar.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Rastro

Meadora acordou no meio da noite com a estranha sensação de ser observada, olhou para o lado e o Barqueiro dormia pesado. Sentiu uma gotícula de suor que brotou atrás da orelha e foi escorrendo por suas costas, até chegar ao calcanhar esquerdo, arrepiou! Resolveu abrir a porta e ir na varanda tomar um ar, foi quando escutou algo (ou alguém) mexer as folhas do mato, num barulho característico de fuga. Observou e continuou alí, de pé! Caminhou até o local e respirou fundo, num respiro que trazia todos os cheiros no raio de todos os quilômetros que a cercavam e captou o odor daquele que entrou em suas terras.
O perfume era estranhamente familiar, e Meadora rapidamente refletiu sobre ele: A primeira nota, a de saída, era colorida e alegre, artista e sedutora, Meadora gostou e sentiu semelhança na dança sapeca e selvagem que o cheiro fazia. A segunda nota, a do coração, era de personalidade guerreira, porém entristecida, Meadora ainda se viu em algumas partes, na determinação, na força... Mas não na melancolia. Foi na última nota, a de base, que Meadora não teve dúvida! Aquele cheiro de morango e especiarias, de resina e de madeira, cheiro de animal, de fêmea! Meadora que não era boba vestiu sua pele de bicho, de lobo e búfalo e foi atrás do rastro que a outra loba produzia. Quando a alcançou estava diante de sua caverna e por mais que desejasse entrar num arrombo, com a força dos ventos e ares que trazia, não o faria!
Uivou do lado de fora, uivo doído de quem se sentiu traída pela própria espécie! Como pode ser tola e achar que Meadora não (pre)sentiria? Que o próprio Barqueiro, que aportou por escolha nas águas de Meadora não compartilharia tudo? Meadora espumava de raiva, pois já havia admirado aquela loba, já havia respeitado... Mas ela tentou entrar no seu espaço e agora o carinho que um dia sentiu se esvaia!

Voltou para o próprio lar, teve até de fumar um cigarro (que havia largado) pra se acalmar, deitou-se ao lado do Barqueiro, ele sentindo sua presença na cama a abraçou forte e então todas as violentas emoções sumiram e Meadora notou que de fato não havia nada entre aqueles dois corpos, entre o coração dela e do Barqueiro e adormeceu tranquila. Se ele não deixou a outra loba entrar não seria Meadora que deixaria!